
Qual é o preço do ouro, Brasil?
Você sabe qual o preço de uma medalha de ouro recebida por um atleta nas olimpíadas? Bom, acredito que nem 15% das pessoas devam ter pensado em fazer essa pergunta, e até mesmo sequer imaginem a resposta dela. Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), o preço da medalha de ouro nesta edição sai em torno de US$ 810,00 (R$ 4.386,08). Parece muito, não é?! E se eu te disser que é muito mais caro que isso, você acreditaria?
Existe uma diferença muito grande entre o valor e o preço das coisas. Na prática, o preço é um valor financeiro, material daquele objeto. Já o valor é a percepção que o público tem sobre esse objeto, portanto, algo muito menos subjetivo. E é muito bacana de ver a emoção dos atletas e suas comissões técnicas ao vê-los recebendo essa medalha. Parece, olhando em seus olhos, que o PREÇO não importa, e sim o VALOR que aquilo representa. E sendo sincero com vocês, eu acho que o preço não importa, perto do CUSTO dessa medalha para um atleta. Mas você já parou pra pensar que no Brasil esse custo parece ser bem maior que nos outros países?
Eu não sei se você chegou a se atentar aos pequenos detalhes de uma disputa olímpica. Mas me parece, ao olhar nos olhos dos atletas brasileiros, que há um medo, um esforço sobrenatural, parece que o brasileiro precisa fazer um esforço muito maior que qualquer outro atleta ou equipe que estiver na sua frente. E eu posso confirmar a minha tese na prática: repare atletas como o surfista Gabriel Medina, favorito na categoria, com as melhores manobras e repertórios que todos os outros adversários. Ele estava ganhando a bateria na semifinal contra um atleta japonês com um ranking muito pior que o dele, mais novo que ele e menos vencedor que ele. Nos minutos finais, o atleta japonês conseguiu uma manobra única e certeira. “Game over” para Gabriel. Até o bronze ele perdeu.
Agora é a sua vez de me perguntar: “Nathan, mas o que é que o preço ou o valor do ouro da medalha tem a ver com o Medina ou o Brasil?”. E eu te respondo: “Tem tudo a ver”. Quando eu falo que tudo na sociedade tem a ver com política, eu digo que o esporte, a educação, a saúde, a segurança e a economia andam de mãos dadas com ela. Aqui no Brasil, o skatista é tratado como maconheiro e vagabundo. O jogador de futebol é chamado de baladeiro e desinformado. O surfista é chamado de praieiro e desocupado. As jogadoras de esporte coletivo são chamadas pejorativamente de sapatões, além de ver seus colegas homens receberem milhões de cifras a mais do que elas, por desempenhos até melhores do que os deles. Não vou nem comentar sobre os esportes de luta, onde os atletas fazem “vaquinha” o ano inteiro para contar centavo por centavo até chegar ao valor para viajar e disputar medalha contra atletas vindo de países tradicionalmente dominantes na mesma modalidade (quando digo países dominantes, digo de governos que sustentam, incentivam e estimulam os esportes desde a escola).
E como a política, e no nosso caso, a juventude pode contribuir para a mudança desse cenário?
É muito simples: o trabalho começa como o de uma formiguinha. Por sinal, você sabia que a formiga (isso mesmo, a formiga) é considerada um dos animais mais fortes do mundo? Ela consegue carregar uma folha com 50x o peso do próprio corpo. E quando associo a juventude com a formiga, quero dizer que esse trabalho pode começar com nossos vereadores jovens. Projetos como a “Lei de Incentivo Fiscal”, onde estimula as empresas privadas a “converterem” o pagamento de determinados impostos em patrocínio para clubes, entidades e associações esportivas, são fundamentais para contribuir com a base de formação de atletas em alto nível. Isso porque 90% das prefeituras do Brasil estão com o seu orçamento comprometido com folha de pagamento (até 60%), educação (24%), saúde (15%). Só nesses 3 setores, temos 99% do orçamento do município. Fora fundo social, segurança pública, previdência e outras fontes de despesas. Ou seja, não há espaço para investimento do poder público com o esporte. Logo, a solução é estimular o setor privado.
Por isso, quando vejo um atleta brasileiro competindo com um atleta japonês no judô, eu posso imaginar que talvez o seu peso na balança possa medir 64 kg, mas o peso sobre os seus ombros carrega 220 milhões de brasileiros, um passado mal resolvido, um presente conturbado e um futuro incerto, além dos demais problemas que temos que enfrentar diariamente.
Por isso, meus amigos, espero que ao final da leitura deste artigo, cheguem á mesma conclusão que eu quanto ao valor de uma medalha de ouro para o brasileiro: aqui é mais suado, é mais raçudo, é mais emocionante e é mais sofrido! E mesmo assim, eu não trocaria as centenas de medalhas dos americanos, chineses ou japoneses pelas nossas dezenas de medalhas. A nossa irreverência, nosso samba, nosso funk, nosso “baile de favela”, no final das contas, vale mais que qualquer medalha de ouro.
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Nathan Dias
Consultor, apresentador e analista político